O Flexível e o Quebrado
Uma Análise Visual da Invisibilidade da Hipermobilidade
A hipermobilidade é muito mais do que “ser flexível”. É uma condição sistêmica que pode ser debilitante, mas que é historicamente ignorada. Este infográfico explora as raízes dessa desvalorização, desde a sua percepção como uma curiosidade de circo até os complexos desafios de diagnóstico e o viés de gênero que os pacientes, na sua maioria mulheres, enfrentam.
Parte I: Raízes Históricas da Desvalorização
A percepção atual da hipermobilidade foi moldada por séculos de enquadramento cultural e médico. Antes de ser uma condição clínica, era um espetáculo, e quando se tornou uma, foi rotulada como “rara”, selando o seu destino de obscuridade.
1657: O Espetáculo
O “Homem-Borracha” George Albes é descrito não como um paciente, mas como um artista com uma “notável anormalidade”. A hipermobilidade entra no imaginário coletivo como uma curiosidade de circo, separando a flexibilidade da patologia.
1901-1908: A Medicalização
Ehlers e Danlos descrevem formalmente a síndrome, ligando a pele elástica à frouxidão articular. Nasce a Síndrome de Ehlers-Danlos (SED), uma doença hereditária do tecido conjuntivo.
Séc. XX: O Rótulo de “Rara”
A SED é classificada como uma doença rara (prevalência estimada de 1 em 5.000). Este rótulo a relega para fora da formação médica geral, criando um ciclo de subdiagnóstico que persiste até hoje.
Hoje: O Paradoxo da Performance
A flexibilidade é valorizada no balé, ginástica e desportos, vista como uma “vantagem”. Isso mascara a dor e as lesões crônicas, normalizando a patologia como o “custo do ofício” e dificultando o reconhecimento médico.
Parte II: O Labirinto Diagnóstico
A Realidade Multissistêmica
O foco redutor nas “articulações flexíveis” ignora que o tecido conjuntivo defeituoso afeta todo o corpo. A hipermobilidade é uma condição sistêmica, uma “zebra” com muitas listras.
Um paciente pode visitar múltiplos especialistas para sintomas aparentemente não relacionados, dificultando um diagnóstico unificador.
Sobreposição com Fibromialgia
Muitos pacientes com hipermobilidade são diagnosticados incorretamente com fibromialgia devido à sobreposição de sintomas como dor crônica e fadiga. No entanto, a causa raiz é diferente.
Característica | SED Hipermóvel | Fibromialgia |
---|---|---|
Causa Primária | Defeito estrutural no tecido conjuntivo | Processamento da dor no sistema nervoso |
Sinal Chave | Instabilidade articular, luxações | Pontos sensíveis, dor sem instabilidade |
Pele | Macia, elástica, hematomas fáceis | Normalmente sem alterações |
Parte IV: O Caminho para a Validação
A mudança é possível e está a ser impulsionada pela advocacia dos pacientes. O futuro reside na educação dos profissionais e num modelo de cuidado integrado que trate a pessoa como um todo.
O Modelo de Cuidado Multidisciplinar
Uma equipe coordenada que comunica entre si é a única forma de gerir eficazmente uma condição sistêmica, quebrando o ciclo de cuidados fragmentados.
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Parte III: A Ferida Social
Gaslighting Médico
“É tudo coisa da sua cabeça.”
A falta de conhecimento médico leva à invalidação dos sintomas do paciente, que são atribuídos à ansiedade ou exagero. Isso transfere a culpa para a vítima e causa um trauma profundo.
Viés de Gênero
A hipermobilidade afeta desproporcionalmente as mulheres, que entram num sistema de saúde que historicamente minimiza a sua dor.
Mulheres têm maior probabilidade de ter sua dor rotulada como “emocional”, resultando em atrasos de diagnóstico e tratamento inadequado.
O Fardo da Invisibilidade
Anos de invalidação e diagnósticos incorretos criam um fardo psicossocial imenso.
O sofrimento é duplo: o da doença e o infligido pelo sistema, corroendo a identidade e a confiança.