Desmistificando a Dor na Hipermobilidade
Uma jornada interativa para entender a sua dor, das “dores de crescimento” a estratégias de manejo baseadas em evidências.
Repensando a Dor
Esta seção introduz os conceitos fundamentais sobre como a ciência moderna entende a dor, afastando-se de modelos ultrapassados. Sendo assim, compreender estas definições é o primeiro passo para validar a sua experiência e encontrar o caminho para um manejo eficaz.
O Alarme de Incêndio Funcional
A **dor aguda** funciona como um alarme de incêndio que atua corretamente. Ou seja, soa alto e claro diante de uma ameaça real e imediata, como uma queimadura ou fratura. Esse sistema de alerta protege você. Portanto, quando a ameaça se resolve e o tecido cicatriza, o alarme desliga-se.
O Alarme de Incêndio Quebrado
A **dor crônica**, por outro lado, assemelha-se a um alarme de incêndio quebrado. Ou seja, mesmo após o “fogo” inicial ter sido extinto, ele continua a soar incessantemente. O sistema de alerta torna-se o próprio problema. Sendo assim, a dor deixa de ser um sintoma protetor e torna-se uma doença em si, persistindo ou recorrendo por mais de **3 meses**.
O Modelo Biopsicossocial: Você é Mais do que um Sintoma
A ciência moderna abandonou a ideia de que a dor resulta apenas de dano tecidual. Portanto, hoje, utilizamos o **modelo biopsicossocial**, que reconhece a dor como uma experiência complexa, influenciada por três fatores interligados:
- Biológicos: sua genética, integridade do tecido conjuntivo e sensibilização do sistema nervoso.
- Psicológicos: stress, ansiedade, medo da dor e o trauma de não ser acreditado por anos.
- Sociais: falta de apoio familiar ou médico, dificuldades no trabalho ou na escola e acesso limitado a cuidados de saúde.
Desta forma, este modelo valida sua experiência. Sua dor é real e moldada por todos esses fatores.
Porque Dói? Os 3 Níveis da Dor na Hipermobilidade
A dor no Transtorno do Espectro da Hipermobilidade (TEH) não possui uma causa única. Dessa forma, ela opera como um ciclo vicioso em três níveis interligados. Sendo assim, entender esse ciclo é crucial para um tratamento eficaz. Clique em cada nível para explorar os detalhes.
Nível 1: Periférico (Os Tecidos)
Ligamentos laxos não estabilizam bem as articulações. Então, os músculos ao redor trabalham excessivamente para compensar, causando fadiga, espasmos e dor.
A raiz do problema está no tecido conjuntivo “frouxo”.
- Instabilidade: Ligamentos laxos não estabilizam bem as articulações. Portanto, os músculos ao redor trabalham excessivamente para compensar, o que leva à fadiga, espasmos e dor.
- Microtraumas: Atividades normais do dia a dia causam pequenas lesões repetitivas em tendões, ligamentos e cápsulas articulares. A soma destes pequenos danos cria uma fonte constante de sinais de dor.
- Fáscia e Tendões: A rede fascial do corpo também é afetada, tornando-se mais densa e menos deslizante, o que irrita terminações nervosas e contribui para a dor generalizada.
Nível 2: Central (O Sistema Nervoso)
O cérebro e a medula espinhal tornam-se hipersensíveis, amplificando a percepção da dor.
O bombardeio constante de sinais de dor do Nível 1 leva a um fenômeno chamado Sensibilização Central.
- Volume no Máximo: O “controle de volume” do sistema da dor fica preso no máximo. O sistema nervoso torna-se hiper-reativo.
- Hiperalgesia: Estímulos que deveriam ser levemente dolorosos são sentidos como extremamente dolorosos.
- Alodinia: Estímulos que não deveriam doer (como o toque de um lençol) passam a causar dor.
- Dor Generalizada: A dor espalha-se pelo corpo, deixando de estar confinada aos locais originais de lesão.
Nível 3: Sistêmico (As Comorbilidades)
Condições associadas pioram a dor, adicionando combustível ao fogo.
Condições frequentemente associadas ao TEH que exacerbam o ciclo da dor.
- Ativação Mastocitária (SAM): Células imunitárias disfuncionais libertam mediadores inflamatórios pelo corpo, causando inflamação de baixo grau que ativa diretamente os receptores de dor e piora a qualidade do tecido conjuntivo.
- Disautonomia (POTS): A desregulação do sistema nervoso autônomo causa fadiga, “névoa cerebral” e tonturas. Em suma, estes sintomas reduzem a resiliência do corpo e diminuem o limiar para a percepção da dor.
Ressignificando as “Dores de Crescimento”
Esta seção aborda diretamente um dos maiores mitos enfrentados por pessoas com hipermobilidade. Sendo assim, falaremos sobre as dores noturnas excruciantes na infância, frequentemente descartadas como “dores de crescimento”, que são sinais precoces de uma condição subjacente.
O Mito: Dores de Crescimento Benignas
A visão tradicional descreve as “dores de crescimento” como:
- Benignas, idiopáticas (sem causa conhecida) e autolimitadas.
- Localizadas nas pernas, tipicamente à noite.
- Ocorrem numa criança saudável com exame físico normal.
- Um diagnóstico de exclusão, que não requer tratamento.
Resultado: a dor da criança é invalidada e uma oportunidade de diagnóstico se perde.
A Realidade: Dor Episódica no TEH
Em crianças hipermóveis, essa dor tem causa clara e é mais bem descrita como **Dor Musculoesquelética Episódica Recorrente**:
- Causada pela fadiga muscular extrema para estabilizar articulações frouxas.
- Agravada pela tensão nos tecidos moles durante os estirões de crescimento.
- É uma manifestação direta e previsível da fisiopatologia do TEH.
- É um sinal de alerta precoce que exige avaliação e manejo.
Resultado: a dor é validada, permitindo intervenção precoce que pode mudar a trajetória da vida do paciente.
A Jornada da Dor: Da Crise Episódica à Dor Crônica
A dor no TEH não é estática, ou seja, ela evolui. Portanto, compreender essa trajetória, conhecida como “cronificação”, é vital para um manejo proativo. A dor episódica da infância, se não for gerida, pode transformar-se em dor crônica e generalizada na vida adulta. Use os botões para comparar as duas fases.
Estratégias de Manejo e Empoderamento
O conhecimento é poder. Esta seção transforma a teoria em prática, oferecendo estratégias para gerir a dor em todas as suas fases e ferramentas para que você se torne um defensor eficaz do seu próprio cuidado. Clique nos tópicos para expandir.
O objetivo é prevenir a cronificação, identificando e controlando os gatilhos periféricos.
- Fisioterapia Especializada: Adaptada para baixo impacto, fortalece músculos estabilizadores profundos e melhora a propriocepção. Evitar alongamentos passivos excessivos; protocolos como o de Muldowney são recomendados.
- Pacing e Modificação da Atividade: Ouvir o corpo, dividir tarefas e fazer pausas para evitar o ciclo “boom-bust”. O objetivo é manter um nível de atividade consistente e sustentável.
Quando a sensibilização central domina, o tratamento deve focar no sistema nervoso e nas comorbidades.
- Manejo Farmacológico: Medicamentos que modulam o sistema nervoso central (como duloxetina, amitriptilina, gabapentina) costumam ser mais eficazes que analgésicos tradicionais.
- Manejo da “Tríade de Comorbilidades”: Tratar SAM (anti-histamínicos e estabilizadores de mastócitos) e POTS (mais sal/líquidos, compressão e medicamentos) para reduzir a sobrecarga corporal.
- Apoio Psicológico: Terapias como TCC e ACT ajudam a reorganizar a relação do cérebro com a dor.
Vá às consultas preparado para educar e advogar por si mesmo.
- Leve Documentação: Resumos de critérios TEH/SEDh e o Questionário 5PQ ajudam a orientar a conversa com médicos.
- Perguntas-Chave: “Qual sua experiência com TEH/SEDh?”; “Podemos explorar abordagem multidisciplinar?”; “Quais especialistas recomenda para minha equipe?”
- Construa sua Equipe: Inclua médico de família, fisioterapeuta, reumatologista, cardiologista (POTS), imunologista (SAM) e profissional de saúde mental.
Em resumo, compreender a dor no Transtorno do Espectro da Hipermobilidade vai além de reconhecer sintomas; significa, acima de tudo, adotar uma nova forma de enxergar o corpo e suas necessidades. Portanto, ao distinguir entre dor aguda e crônica, além de validar experiências desde a infância e aplicar o modelo biopsicossocial, você encontra ferramentas práticas para assumir o controle da sua jornada.
Além disso, quando estratégias de prevenção, estabilização e abordagem multimodal são utilizadas de maneira consistente, torna-se possível reduzir significativamente o impacto da dor no dia a dia. Consequentemente, cada escolha informada não apenas contribui para uma vida mais equilibrada, mas também promove sustentabilidade e saúde a longo prazo.
Assim sendo, o próximo passo consiste em transformar conhecimento em ação. Para isso, é essencial conversar com profissionais de saúde, aplicar as técnicas de pacing, fortalecer os músculos estabilizadores e, sobretudo, reconhecer que a sua dor é real. Por fim, quando você se torna protagonista do próprio cuidado, então abre espaço para mais autonomia, resiliência e qualidade de vida.
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