Blog

Este blog é destinado apenas a título de educar e informar o público sobre questões médicas e de saúde. Nenhuma informação presente neste site deve ser considerada aconselhamento médico, diagnóstico ou tratamento. Recomendo fortemente que os usuários consultem um médico ou profissional de saúde qualificado para obter orientações personalizadas sobre sua saúde. Este site não substitui a consulta médica ou o aconselhamento direto de um profissional de saúde licenciado.

Hipermobilidade e Autismo na Infância: Estratégias para Superar os Desafios do Desenvolvimento Motor

Hipermobilidade na Infância e Transtorno do Espectro Autista como superar os desafios do desenvolvimento motor

Conteúdo

Quando minha filha nasceu, eu percebi que algo estava um pouco diferente em seu desenvolvimento motor. Ela era uma bebê tranquila, mas um pouco “mole”, com articulações mais flexíveis do que o habitual. O tempo foi passando, e ela demorou um pouco mais que outras crianças para atingir certos marcos motores, como rolar e sentar. Como mãe, essas pequenas diferenças traziam apreensão. E como médica, sabia que precisávamos agir.

Hoje eu entendo o impacto que a hipermobilidade articular tem no desenvolvimento motor da criança. Essa condição, muitas vezes caracterizada por uma maior elasticidade dos tecidos conectivos, pode afetar de forma significativa o desenvolvimento motor de uma criança. Hoje, quero compartilhar minha experiência, tanto como mãe quanto como médica, para ajudar outros pais a entenderem essa jornada e darem o apoio que seus filhos precisam.

O Que é a Hipermobilidade?

A hipermobilidade articular se refere à capacidade das articulações de se moverem além do que seria considerado normal. Em crianças com essa condição, a elasticidade excessiva do tecido conectivo, que inclui ligamentos e tendões, pode tornar suas articulações mais “moles” ou “flácidas”, levando a dificuldades no controle muscular e estabilidade articular.

Essa maior flexibilidade pode afetar o desenvolvimento motor, o que significa que marcos importantes, como sentar, engatinhar e andar, podem ser atingidos mais tarde do que o esperado. Isso acontece porque, para que a criança consiga sustentar o próprio peso, é necessário mais esforço muscular, algo que bebês com hipermobilidade podem ter dificuldade em fazer.

Meu Caso Pessoal: Como Vencemos o Atraso Motor

No caso da minha filha, iniciei intervenção precoce, começamos a estimular mais os seus músculos e a promover atividades que favorecessem o fortalecimento muscular. Com o tempo, ela superou essas dificuldades e atingiu todos os marcos motores esperados. Essa vitória me ensinou que, com paciência e estímulo adequado, as crianças com hipermobilidade podem prosperar.

Esse tipo de intervenção precoce é crucial. Estudos mostram que quanto mais cedo oferecemos apoio adequado, maiores são as chances de uma criança com hipermobilidade atingir seus marcos motores dentro do esperado. A fisioterapia pediátrica, a terapeuta ocupacional e a psicopedagoga são aliadas poderosas nesse processo, ajudando a criança a desenvolver força e controle muscular, elementos fundamentais para seu desenvolvimento.

“As crianças com hipermobilidade articular podem se beneficiar enormemente da fisioterapia precoce e de exercícios específicos que visam fortalecer os músculos estabilizadores das articulações.”  

Sinais de Hipermobilidade e Atraso Motor

Alguns sinais comuns de hipermobilidade incluem:

  • Articulações que parecem “dobrar demais”: Se você perceber que os joelhos, cotovelos ou dedos do seu filho se movem mais do que o normal, isso pode ser um indicativo.
  • Postura incomum ao sentar ou engatinhar: Crianças com hipermobilidade tendem a sentar com as pernas muito abertas ou em uma postura chamada “W-sitting”, onde os joelhos ficam voltados para dentro, formando um “W” no chão.
  • Dificuldade para se manter ereto: A falta de tônus muscular suficiente pode levar a dificuldades em se sentar ou ficar em pé sem apoio.

Em alguns casos, essas crianças podem ser descritas como “flácidas” ou “moles”, o que está relacionado ao baixo tônus muscular. Esse tônus reduzido é uma característica comum em crianças com hipermobilidade, pois a elasticidade excessiva dos tecidos faz com que o músculo precise trabalhar mais para estabilizar as articulações.

A Importância da Intervenção Precoce

A intervenção precoce é um dos fatores mais determinantes no sucesso do desenvolvimento motor de uma criança com hipermobilidade. Quanto mais cedo os músculos forem fortalecidos e o controle motor for trabalhado, menores serão os desafios no futuro.

No caso da minha filha, iniciamos os exercícios assim que percebi o atraso motor. Realizamos atividades para fortalecer os músculos e melhorar sua capacidade de movimento. Com o tempo, ela aprendeu a sustentar o próprio peso de forma adequada, e todos aqueles marcos que pareciam tão distantes começaram a ser alcançados.

Uma citação de um estudo publicado na revista ‘Pediatrics’ ressalta que o acompanhamento fisioterápico regular em crianças com hipermobilidade pode acelerar a conquista dos marcos motores e melhorar a qualidade de vida a longo prazo.

Táticas Simples que Fazem Diferença

Para pais que estão passando por algo semelhante, gostaria de compartilhar algumas das táticas que mais nos ajudaram:

  • Brincadeiras no chão: Incentivar o bebê a passar mais tempo no chão, brincando e explorando, é uma forma simples, mas eficaz de fortalecer os músculos. Isso inclui o famoso “tummy time” (tempo de bruços), essencial para o desenvolvimento dos músculos do pescoço, ombros e braços.
  • Brinquedos que estimulam o movimento: Utilizar brinquedos que incentivem o bebê a rolar, alcançar ou levantar-se também é uma ótima forma de promover o desenvolvimento motor.
  • Fisioterapia lúdica: Atividades terapêuticas que parecem brincadeiras podem ajudar a criança a se movimentar e, ao mesmo tempo, a desenvolver os músculos que precisam ser fortalecidos.

Conectando Hipermobilidade ao Autismo

Outra questão que quero destacar é que hipermobilidade e autismo muitas vezes caminham juntos. Durante meu trabalho com crianças autistas, percebi que muitas delas também apresentam características de hipermobilidade. Estudos recentes têm mostrado uma relação entre distúrbios do tecido conectivo e o espectro autista, o que me levou a explorar ainda mais esse campo.

Se você é pai ou mãe de uma criança com autismo, vale a pena observar se há sinais de hipermobilidade, pois isso pode impactar diretamente o desenvolvimento motor do seu filho. E, como já mencionei, a intervenção precoce aqui também faz toda a diferença.

Faça Parte da Conversa

Como pais, muitas vezes nos sentimos sozinhos nessa jornada, sem saber se o que estamos fazendo é o melhor para nossos filhos. Mas quero que você saiba que não está sozinho. Se a sua criança foi diagnosticada com hipermobilidade, existem muitos recursos e especialistas prontos para ajudar. Compartilhe suas dúvidas, suas experiências e aprendizados. Deixe seus comentários abaixo ou entre em contato comigo. Eu adoraria ouvir suas histórias e ajudar no que for possível. Eu também te encorajo a compartilhar este post com outros pais que possam estar passando por algo semelhante

Se você suspeita que seu filho possa ter hipermobilidade ou se já recebeu esse diagnóstico, não hesite em buscar ajuda profissional. A intervenção precoce, com o suporte de pediatras especializados e equipe multiprofissional, pode transformar o desenvolvimento motor da criança. Caso precise, entre em contato comigo e agende uma consulta para avaliação.

Conclusão

A jornada de uma criança com hipermobilidade pode ser cheia de desafios, mas também de grandes conquistas. Com o suporte adequado e a orientação certa, essas crianças podem superar as dificuldades e alcançar seus marcos de desenvolvimento. A intervenção precoce é fundamental, e, como mãe e pediatra, posso atestar que o esforço vale a pena.

Para mais informações ou marcação de consultas, entre em contato com (61) 99613-3756 ou envie um e-mail drakalinytrevezani@gmail.com 


Dra. Kaliny Cristine Trevezani de Souza
Médica Pediatra
CRMDF 20469 | RQE 12424

Leia também: Transtorno do Espectro Autista, Hipermobilidade e Síndrome de Ehlers-Danlos: Uma complexa interseção

Bibliografia

Developmental Coordination Disorder and Joint Hypermobility in Childhood: A Narrative Review

Assessing Joint Hypermobility, Proprioception, and DevelopmentalFunctioning in Toddlers Born Preterm.

Motor Performance in Childrenwith Generalized Hypermobility:The Influence of Muscle Strengthand Exercise Capacity

As informações contidas nesse site são unicamente informativas e não tem a intenção de constituir ou substituir uma consulta médica.

Compartilhe

2 comentários em “Hipermobilidade e Autismo na Infância: Estratégias para Superar os Desafios do Desenvolvimento Motor”

  1. Achei seu artigo muito interessante. Meu filho, apesar de ter um bom desenvolvimento quando bebê, não conseguia andar sem apoio; suas articulações eram moles. Como ele é filho único e sou mãe de primeira viagem, estranhei um pouco, mas não tinha certeza se era algo relevante. Ele só começou a andar sozinho aos 16 meses e era considerado um “bebê mole”. Nunca conseguiu correr como as outras crianças, que até comentavam sobre ele ser “muito mole”. Ainda hoje, ele anda de forma diferente e tem dificuldade em atividades que exigem muito movimento. Quando aperto suas mãos, as articulações até dobram com facilidade.

    Ele é autista, com nível de suporte 1, e já sofreu algumas fraturas: uma no osso capitato da mão direita e outra em um dedo da mão esquerda. Ele tem articulações muito flexíveis e, às vezes, faz movimentos com os dedos que parecem deslocados. Além disso, ele se machuca com facilidade, aparenta ter ossos mais frágeis e apresenta alta tolerância à dor.

    Também notei que ele tem cifose (curvatura nas costas) e consegue fazer movimentos incomuns para crianças da idade dele. Ele frequentemente se queixa de dor na região lombar, e eu suspeito que ele possa ter Síndrome de Ehlers-Danlos, uma condição genética que afeta o tecido conjuntivo.

    Quando eu era jovem, também apresentava sinais de hipermobilidade: subia em árvores com facilidade, tinha articulações flexíveis, sentava em “W” e, até depois de adulta, dormia em posição de “sapo”, como um bebê. Agora, aos 40 anos, minha mobilidade diminuiu muito. Vivo com as articulações “estalando” a cada movimento de alongamento, sinto que estão mais rígidas, e até subir escadas se tornou difícil; toda a flexibilidade que eu tinha parece ter desaparecido. Hoje faço tratamento para SAM.

    1. Agradeço seu depoimento e fico feliz que tenha gostado do texto. Minha ideia com o blog é divulgar sobre a Hipermobilidade no autismo. É uma característica muito comum, que traz muitas consequências, mas é pouco valorizada. Se puder ajudar você em sua jornada, conte comigo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja mais

logo kaliny trevezani
Dra Kaliny Cristine Trevezani de Souza
Pediatra e Cardiologia Pediátrica
CRMDF 20469 / RQE 12424 / RQE 12456

Categorias

Leia também

logo kaliny trevezani
Dra Kaliny Cristine Trevezani de Souza
Pediatra
CRMDF 20469 / RQE 12424

Informações

Para mais informações ou marcação de consultas,entre em contato com (61) 999613-3756 ou envie um e-mail
drakalinytrevezani@gmail.com

Para mais informações ou marcação de consultas, entre em contato com (61) 999613-3756 ou envie um e-mail drakalinytrevezani@gmail.com

Dra. Kaliny Trevezani | 2024 © Todos os direitos reservados | Desenvolvido com ❤ por Amanda Salinas