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Não é só falta de foco: a realidade invisível e complexa do TDAH

Conteúdo

Se você ou alguém próximo vive com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), sabe que essa jornada frequentemente envolve muito mais do que apenas dificuldades de foco ou inquietação. O TDAH, como um Transtorno do Neurodesenvolvimento (TND), raramente caminha sozinho.

As pesquisas mais recentes, portanto, nos convidam a expandir nosso olhar. Elas mostram que o TDAH funciona como um nó central em uma vasta rede de comorbidades, interligando-se intimamente tanto com outros TNDs quanto, de forma surpreendente, com manifestações físicas. Assim, essa visão mais ampla torna-se essencial para compreender a totalidade da condição e, consequentemente, buscar um cuidado que considere tanto a mente quanto o corpo.

O TDAH no agrupamento de síndromes neurodesenvolvimentais (ESSENCE)

Além disso, o TDAH é caracterizado por sua diversidade clínica, o que historicamente gera desafios diagnósticos e avaliações subjetivas. Seus sintomas centrais envolvem reduções nos sintomas nucleares de hiperatividade/impulsividade e/ou desatenção.

No contexto dos TNDs, o TDAH está fortemente inserido na estrutura conhecida como ESSENCE (Early Symptomatic Syndromes Eliciting Neurodevelopmental Clinical Examinations). Ou seja, o Agrupamento de Síndromes Neurodesenvolvimentais destaca como diferentes condições frequentemente coexistem desde cedo.

A comorbidade com o TEA

A interconexão mais notória do TDAH ocorre com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Por isso, muitas estratégias de pesquisa precisam considerar explicitamente essa sobreposição ao investigar NDDs, buscando termos como autism, asperger, TEA ou pdd-nos junto com TDAH.

Dentro do conceito ESSENCE, a hiperatividade/hipoatividade e a desatenção aparecem como dificuldades que frequentemente coexistem com outros desafios neurodesenvolvimentais. Dessa forma, arelação reforça como o TDAH se insere em um ecossistema mais amplo de condições interligadas.

Biomarcadores e desregulação interna

Além disso, as pesquisas atuais buscam abordagens mais objetivas para o TDAH, como a metabolômica, que explora biomarcadores no sangue e na urina. Esses estudos, por sua vez, mostram ligações entre TDAH e diversos parâmetros fisiológicos relevantes.

  • Metabolismo Atípico: Alterações no metabolismo de aminoácidos.
  • Neurotransmissores: Desregulação de neurotransmissores, especialmente dopamina e serotonina.
  • Eixos de Estresse: Ativação do caminho da cinurenina induzida pelo estresse, que impacta a homeostase dos neurotransmissores.
  • Sono: Marcadores de distúrbio do sono, notavelmente no metabolismo da melatonina.

Além disso, a desregulação emocional é um resultado crítico a ser avaliado em estudos clínicos de TDAH. A etiologia também é complexa, com pesquisas observando a presença de TDAH em crianças nascidas de mães com disfunção tireoidiana.

O elo físico inesperado: TDAH e hipermobilidade articular

Um campo emergente e importante liga diretamente o TDAH a distúrbios físicos associados ao tecido conjuntivo.

Hipermobilidade Articular (HA)

Assim, o TDAH está associado à hipermobilidade articular (HA), ao Distúrbio do Espectro de Hipermobilidade (HSD) e, especialmente, à Síndrome de Ehlers-Danlos (SED), ao Transtorno do Espectro de Hipermobilidade (TEH) e à hipermobilidade articular generalizada (ou frouxidão ligamentar).

Dados da Pesquisa

Um estudo avaliou pacientes com TDAH e identificou que a incidência da Síndrome da Hipermobilidade Articular Benigna (SHAB/BJHS) foi significativamente maior nesses pacientes (31,5%) do que no grupo controle (13,9%). Também houve aumento relevante na pontuação de Beighton, que mede a hipermobilidade.

Sintomas sobrepostos

A manifestação de hiperatividade/inatenção aparece como uma característica que se sobrepõe entre TEA e Síndrome de Ehlers-Danlos (SED), TEH e hipermobilidade articular generalizada. Essa conexão sugere que variações no tecido conjuntivo podem ser relevantes na expressão de sintomas neuropsiquiátricos.

Para os clínicos, isso aponta que, ao avaliar crianças com problemas dentro do espectro ESSENCE (incluindo sintomas de TDAH como inatenção e hiperatividade/hipoatividade), deve-se considerar um possível Distúrbio Hereditário do Tecido Conjuntivo (DHTC), como Síndrome de Ehlers-Danlos (SED), TEH e hipermobilidade articular generalizada/JHS, que pode influenciar atributos neurodesenvolvimentais.

O desafio invisível: TDAH em mulheres

Para as mulheres, o TDAH apresenta barreiras adicionais no sistema de saúde.

  • Subdiagnóstico Crônico: O TDAH frequentemente permanece sub identificado, subdiagnosticado e subtratado em mulheres. Isso se deve em parte às diferenças na forma como o TDAH é vivenciado e comunicado por elas, e na maneira como os profissionais de saúde interagem com elas.
  • Experiência Interna: Os critérios diagnósticos nem sempre abrangem a experiência interna dos sintomas em mulheres. Essa experiência pré-diagnóstico pode resultar em um custo emocional alto e dificuldades em expressar sintomas do TDAH aos profissionais.

Orientações práticas para um cuidado integral

Devido à complexidade do TDAH e sua relação com TNDs e condições físicas, a abordagem de suporte deve ser abrangente:

  1. Reconhecimento da interconexão: Se você tem TDAH e sintomas como dor crônica ou problemas nas articulações, é importante discutir a possibilidade de hipermobilidade com um clínico, já que o TDAH e a HA têm uma associação clara.
  2. Abordagem holística da dor: Condições como TDAH e dor crônica estão associadas. Se o TDAH coexiste com a hipermobilidade, o gerenciamento da dor, que pode ser uma comorbidade, torna-se essencial.
  3. Suporte direcionado: Para as mulheres com TDAH, buscar apoio pós-diagnóstico específico para TDAH feminino pode ser crucial para melhorar o bem-estar.
  4. Foco em resultados críticos: O tratamento do TDAH busca a redução dos sintomas centrais (hiperatividade/impulsividade e/ou desatenção), a diminuição de prejuízos, a melhoria da função adaptativa e da Qualidade de Vida (QoL), e a redução de eventos adversos. A identificação e intervenção na desregulação emocional também são resultados críticos.

Bibliografia

Leia também: Entenda os Efeitos dos Transtornos Sensoriais em Crianças e Adolescentes

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Kaliny Trevezani

Médica Pediatra - CRMDF 20469 / RQE 12424

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Dra Kaliny Cristine Trevezani de Souza
Pediatra – CRMDF 20469 / RQE 12424

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