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Exames Normais, mas com dor e inflamação? Descubra a Síndrome Invisível

Síndrome de Ehlers-Danlos hipermóvel

Conteúdo

Novas pesquisas revelam que a Síndrome de Ehlers-Danlos hipermóvel, a Síndrome Invisível, envolve disfunção imunológica e alterações no sistema complementar.

Se você vive com a Síndrome de Ehlers-Danlos hipermóvel (hEDS), sabe como essa condição pode ser complexa, multissistêmica e, muitas vezes, incompreendida. Por isso, não é surpresa que tantas pessoas convivam com frustração, atrasos diagnósticos e falta de clareza sobre o que realmente acontece em seu corpo.

Por muito tempo, a Síndrome de Ehlers-Danlos hipermóvel tem sido classificada primariamente como um distúrbio do tecido conjuntivo, caracterizado por hipermobilidade generalizada das articulações e dor crônica, afetando aproximadamente 1 em 500 a 1 em 3.100 indivíduos. Entretanto, como o diagnóstico depende de critérios clínicos e não de um biomarcador, muitas pessoas enfrentam esperas que ultrapassam uma década.

Mas, esse cenário está mudando. Ou seja, pesquisas mais recentes estão lançando luz sobre os mecanismos biológicos subjacentes à Síndrome de Ehlers-Danlos hipermóvel, e o que estão descobrindo pode ser a peça que faltava no quebra-cabeça: a disfunção imune inata (disfunção imunológica).

O que a proteômica revela: uma mudança de paradigma

Um estudo inovador utilizou a proteômica (o estudo em larga escala das proteínas) para analisar o soro sanguíneo de pacientes com hEDS e controles pareados. O objetivo era identificar assinaturas proteicas que ajudassem a entender melhor a fisiopatologia da condição e, portanto, oferecer bases mais sólidas para futuros diagnósticos.

Os achados demonstram uma disfunção sistêmica que vai muito além dos problemas de colágeno:

  • A análise proteômica identificou 35 proteínas expressas de forma diferente em pacientes com hEDS.
  • Cerca de 80% delas se relacionam a vias imunológicas, inflamatórias ou de coagulação.
  • A cascata do complemento, peça central da imunidade inata, engloba 43% das proteínas diferencialmente expressas.

Ou seja, a hEDS não é vista mais apenas como um problema estrutural. Pelo contrário: o novo paradigma apoia que ela seja uma condição mais ampla, que inclui componentes reumatológicos e autoinflamatórios. Reforçando a ideia de que a disfunção imunológica desempenha papel essencial.

O sistema complemento: uma redução preocupante

O sistema complemento é crucial para a defesa imunológica e a regulação da inflamação. A validação desses achados, utilizando testes mais específicos (ELISA), demonstrou reduções consistentes e generalizadas em componentes essenciais do complemento no soro de indivíduos com hEDS.

Os pacientes com hEDS apresentam níveis séricos significativamente mais baixos dos seguintes componentes do complemento, mesmo após a exclusão de participantes com doenças autoimunes conhecidas:

  • C1QA (via clássica).
  • C3 (componente central das vias).
  • C8A e C8B (via terminal).

O significado dessas reduções

Essas reduções são um sinal de alerta. Elas sugerem um modelo de consumo hiperativo do complemento, e não apenas uma síntese prejudicada. Esse consumo pode levar à desregulação das vias clássica e terminal do complemento.

A disfunção do complemento é relevante para muitos dos sintomas que você sente, especialmente quando pensamos na integração entre imunidade, tecido conjuntivo e mecanismos estudados pela neurociência:

Mastócitos e Inflamação

O C1Q e o C3 modulam a ativação dos mastócitos. É importante notar que 71% dos pacientes com hEDS incluídos neste estudo relataram sintomas relacionados a mastócitos, uma prevalência consistente com estudos anteriores. Essa interação sugere uma ligação fundamental entre a desregulação do complemento e respostas imunológicas mediadas por mastócitos, que podem contribuir para a dor crônica e a fragilidade microvascular.

Defesa Imunológica

Níveis reduzidos de C8 e C9 podem potencialmente comprometer a formação do complexo de ataque à membrana (MAC), o que tem sido associado ao aumento das taxas de infecção.

Citocinas e inflamação crônica

O estudo também analisou o perfil de 105 citocinas circulantes (pequenas proteínas que atuam como mensageiros do sistema imunológico) e confirmou um padrão de desregulação imune e inflamação crônica no hEDS.

Diversas citocinas envolvidas na imunidade inata, no reparo tecidual e no estresse oxidativo estão significativamente diminuídas.

  • O TGF-α (Fator de Crescimento Transformador Alfa), importante para o reparo tecidual, apresentou a maior redução.
  • O Serpin E1 (PAI-1) e o TGF-α diminuídos podem indicar um reparo tecidual comprometido e homeostase da Matriz Extracelular (MEC) interrompida

Em contrapartida, houve um aumento em apenas uma citocina, a IGFBP-2.

Um alerta importante sobre estrutura

É interessante notar que, apesar de a hEDS ser tradicionalmente vista como um distúrbio do tecido conjuntivo, este estudo não observou diferenças significativas nos níveis de fibronectina ou colágeno (e seus fragmentos) entre os pacientes com Síndrome de Ehlers-Danlos hipermóvel e os controles. Isso contrasta com alguns relatos anteriores e reforça a necessidade de mais validação independente para biomarcadores de hEDS.

Olhando para o futuro: cuidado e opções

Essas descobertas sobre a disfunção imune são extremamente importantes, pois elas oferecem orientações práticas e esperança para o futuro do diagnóstico e tratamento do hEDS. O que isso significa para você agora:

Diagnóstico mais Preciso

Embora esses biomarcadores não substituam a avaliação clínica neste momento, eles podem, no futuro, aprimorar as estruturas diagnósticas e permitir estratificação de pacientes com base biológica.

Alvos Terapêuticos

O conhecimento da desregulação do complemento e das citocinas abre caminho para novas estratégias terapêuticas. Abordagens que visam inibir o complemento, estabilizar mastócitos ou atuar sobre citocinas podem ter potencial na hEDS, especialmente em casos de envolvimento multissistêmico ou comorbidades imunológicas.

A Síndrome de Ehlers-Danlos hipermóvel é uma condição complexa que se encontra na interseção entre predisposição genética, a ativação do sistema imunológico e a disfunção do tecido conjuntivo. Sendo assim, continuar a investigar a disfunção imunológica é crucial para fornecer insights sobre sua patofisiologia e, o mais importante, guiar o desenvolvimento de intervenções clínicas mais direcionadas.


A ciência está trabalhando para entender e apoiar melhor a sua jornada.
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Fonte: Proteomic discoveries in hypermobile Ehlers–Danlos syndrome reveal insights into disease pathophysiology

Leia também: Respiração, Síndrome de Ehlers-Danlos e Transtorno do Espectro de Hipermobilidade: Entendendo os desafios respiratórios na Hipermobilidade

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Kaliny Trevezani

Médica Pediatra - CRMDF 20469 / RQE 12424

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Dra Kaliny Cristine Trevezani de Souza
Pediatra – CRMDF 20469 / RQE 12424

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